terça-feira, 27 de agosto de 2013

Não subestime a minha dor

- Esses dias te vi com seu novo namorado.
- Por que não veio falar conosco?
- Por favor, desde que terminamos nunca pedi nada a você, não me peça naturalidade com isso ainda. Não subestime a minha dor.
- Desculpe, não sabia que isso lhe afetava dessa maneira.
- Não é não estar com você que me machuca. Eu aceitei isso, não tínhamos mais o que dividir, não éramos mais nós. O nosso tempo acabou de alguma maneira. Mas ao te ver ali com outra pessoa te fazendo feliz, sorrindo; bom, isso me trouxe tantas lembranças e tanta saudade, do tempo que achávamos que tudo seria infinito. Lembrei de quando o que nos unia era uma necessidade insuportável de estar junto. De acordar e se você não estivesse do meu lado o meu primeiro pensamento fosse você. Lembrei do fim de toda a tarde, quando você tocava a campainha e eu já vinha sorrindo do quarto até a porta da sala de estar. Senti um aperto tão forte no peito de lembrar de como era bom apenas ficar ao seu lado, sentir você, ouvir sua respiração, sem falar nenhuma palavra, só por estar ali, eu me sentia como eu hoje já não me sinto.
- Nós nos amávamos isso era verdade, mas em algum lugar a gente se perdeu um do outro. Eu guardo tantas coisas boas de você. Queria tanto que pudesse fazer o mesmo por mim.
- Eu vou. Não sei quando, mas te prometo que vou, vai ser difícil por um tempo. Mas o que a gente sentia não pode simplesmente desaparecer. Ele se mantem de uma outra maneira, mas ele vai se manter.  Ele não se parece com o tipo de pessoa que você costumava se envolver. Não o conheço direito não posso dizer, mas o que ele tem que te fez jogar tudo o que você tinha construído fora? Quem ele é para conseguir o que eu não consegui? 
- Por que esse tipo de pergunta? Para que fazer isso, revirar coisas que já não são mais?
- Não pense que não arde saber, mas eu prefiro, do que ficar pensando mil possibilidades de erros que poderiam ter sido não cometidos. Eu preciso virar essa página e você é o único que pode fazer isso por mim. Só me diz o que ele tem.
- Ele me faz bem.
- Eu não te fazia?
- Fez.
- Então?
- Ele faz despertar as melhores coisas em mim. Eu não penso antes de falar, eu não preciso impressioná-lo, eu me sinto eu mesmo estando ele. Ele me ouve, se interessa por mim, pelo que faço. Nós conversamos, aprendemos um com o outro. Nós rimos, mas do que isso, ele me faz sorrir. Sorrir por dentro.
- Isso está doendo mais do que eu imaginei.
- Não existe comparação. Isso não é justo. Você me fez sentir coisas que foram nossas. Sentimentos que só cabiam à nós. Mas em algum momento não foi o suficiente. Para nós, você também não estava feliz. Nós não fazíamos mais sentido. Quando perceber isso, tudo vai mudar. Não me culpe, não se lembre de mim com amargura. O que tivemos eu nunca mais vou ter com ninguém. Mas o que eu tenho hoje é o que eu quero, é quem eu quero. E por favor não faça eu me sentir culpado por querer ser feliz outra vez, se nós não éramos mais. Você precisa fazer o mesmo. Seguir em frente.
- Só me diz, como eu faço isso?
- Eu não sei, isso só você pode fazer por si mesmo. Eu vou sempre estar aqui, sempre que precisar, vou continuar me lembrando de você e de como foi importante para mim. Mas agora o meu amor é diferente. Eu quero poder me sentir feliz por você, te ver bem. Me prometa. 
- Eu nunca quebrei uma promessa, nem a de te amar para sempre.

- Memórias Públicas

sábado, 10 de agosto de 2013

Novela

- Já começou uma novela nova e a gente nunca mais se viu.
- Achei que você não quisesse mais me ver.
- Por que eu faria isso?
- Deve ser o que se sente quando alguém faz o que você fez, vai embora sem se despedir e não liga depois.
- Eu estava confuso. Não sabia o que você esperava de mim ou o que queria. Eu errei.
- As pessoas costumam obter respostas quando estão dispostas a fazer perguntas.
- Senti sua falta.
- Eu também. No começo. 
- Não sente mais?
- Não sei. Sinto falta do que achei que teríamos. 
- Eu também, me desculpa por isso. Queria tentar outra vez.
- Quando você não voltou, eu passei dias tentando entender qual foi o passo errado, onde eu deixei escapar o que eu tanto cuidava ou por que alguém simplesmente se esquece do que antes dizia ser tão importante. Descrevi inúmeras cenas, desenvolvi fórmulas que explicassem o que eu não sabia justificar. Pensar que eu fui o culpado mesmo que parcialmente não adiantou. Porque eu estava disposto, eu sim quis enfrentar tudo de frente, não ser mais um adolescente bobo que bota tudo a perder quando se sente inseguro.
- Eu não posso mudar o que fiz, mas agora também estou disposto a fazer dar certo.
- Fico feliz por você ter amadurecido. Mesmo que eu quisesse não conseguiria não te desculpar. Não deixo sentimentos ruins se manifestarem por muito tempo em mim.
- Então nós vamos fazer isso juntos outra vez?
- Você e eu já deixamos de ser nós há algum tempo. Mesmo sendo diferente não vou voltar a algo que já teve seu fim. Tudo tem um prazo de duração, até mesmo o amor. E o nosso acabou.
- Eu ainda te amo.
- Eu também,  mas o que nos uniu quebrou e só o amor não vai ser o bastante. 
- Eu ainda posso te ver?
- Não acho que vai ser possível.
- Por que? 
- Estou indo viajar.
- E quando você volta?
- Eu não volto. 

- Memórias Públicas

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Onde eu me esqueci

"Hoje quando acordei senti falta de mim mesmo. Da minha casa, dá janela que dá para vista da copa das árvores. Senti falta dos meus finais de tarde, sentado na sala, os pés sobre a velha mesinha de centro, a xícara de café. De acordar cedo no meu quarto, abrir a cortina deixar o sol entrar. Sinto falta de conversar com meus pensamentos. De sair para correr antes da novela.
Sinto falta de não ter compromissos, de simplesmente levantar e ir embora quando me canso das conversas, de me sentir livre. Das aulas de yoga que eu nunca mais fui. De abrir um vinho sozinho e sentar para desenhar. De ligar o som alto e sair cantando pelos cômodos. Hoje quando acordei senti falta dos meus planos, das minhas metas. Das minhas viagens, das pessoas que por lá eu conheço e de tudo que trago delas para mim. Senti falta de ser eu mesmo, até da minha rotina.
Eu ainda não aprendi a não me deixar levar, de não me envolver tanto a ponto de me perder no caminho. Talvez por isso eu sinta como se sempre estivesse procurando por algo, talvez essa procura seja por mim mesmo, sempre tentando voltar pro lugar onde eu me esqueci."

- Memórias Públicas